Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Clichê e pieguice à parte, não dá para negar que o nosso Lulu Santos anteviu o mundo pós-apocalíptico de 2020, versando sobre as nuances da sociedade depois do advento da Covid-19. Uma das áreas mais afetadas pela pandemia foi a de eventos. Não foram poucas as casas de festa, boates e discotecas que sucumbiram ao distanciamento social, tendo que fechar as portas em função do bloqueio econômico imposto pela quarentena. Os espaços que sobreviveram, no entanto, já funcionam seguindo as novas regras de higiene, como o famoso Hard Club, palco de shows e eventos no Porto. No último fim de semana, eu e meus amigos tomamos um susto ao ver a singela notificação na aba de festas do Facebook, que já tomávamos como obsoleta. “Sunset na esplanada, das 18h às 20h”. Duas horinhas de música ao ar livre? Em outros tempos, o curto período causaria revolta, mas não estamos em condições de reclamar, especialmente por Portugal ser um dos melhores países a tratar do Coronavírus. Chegando ao recinto, a primeira surpresa: não estava cheio. A malta jovem portuguesa ainda não está cem por cento segura, evitando qualquer tipo de aglomeração, mesmo as chanceladas pelo governo. O Dj tocava clássicos animados da música brasileira, passando da mpb ao funk, mas sem nenhuma companhia na pista de dança. A orientação era para que os convidados ficassem sentados, em grupos de até dez amigos, ouvindo o grave do conforto de sua cadeira de plástico da Superbock.
Confesso que ouvir o pancadão sem dançar é uma experiência, no mínimo, curiosa. Os pézinhos batendo no chão entregavam o desconforto com a situação, mas sem espaço para drama. Abrimos nossas cervejas e aproveitamos o belo dia de Sol que fazia. Um dia lembraremos, sem o menor pingo de nostalgia, das bizarrices impostas pelo vírus que parou o mundo.
Texto de Gabriel Cassar - escritor, residente em Portugal e nosso colunista quinzenal :)
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