É aquela velha história: a pessoa não dá valor durante anos, perde, sente falta e, quando recupera, quase chora de tanta emoção e agradecimento. Não, não estou falando de relacionamento, namoro, casamento ou algo do gênero, mas sim da famigerada ROTINA, que vem sendo retomada aos poucos em Portugal.
O cuidado ainda está presente, é claro. Todos de máscara, alguns de luva, outros ainda levam consigo o pequeno frasco de álcool-gel. Aglomerações ainda não são permitidas, mas já não há aquele limite impositivo de pessoas nos supermercados. Graças ao isolamento social bem sucedido, é possível fazer compras sem se preocupar com o tempo dentro do estabelecimento e com as nada saudosas filas quilométricas, que antes davam um ar de game show ao simples ato de encher um carrinho e correr para o caixa.
Até o Sol resolveu dar mais o ar de sua graça nesses últimos dias, aparecendo quase durante toda a semana e elevando a temperatura para um clima digno de Rio de Janeiro. Para se ter uma noção, foi a primeira vez que encontrei diversas lojas abertas desde que me mudei do Porto para Lisboa. Conheci a freguesia de Penha de França pós-Apocalipse, não mais refém das grades e placas de “estamos fechados”. O cinza deu lugar à diversidade de cores. A simples presença de umas mesas na calçada já fizeram meus olhos se encherem de água. A vida estava finalmente retomando o seu rumo natural. Foi quase como um sinal divino, do tipo “Tá vendo? É para vocês aprenderem a não reclamar da rotina nunca mais”. Pode deixar, chefia. Não está mais aqui quem falou!
Texto de Gabriel Cassar - Jornalista e escritor, residente em Portugal e nosso colunista quinzenal =)
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