Aparentemente, Portugal está em vias de retornar à normalidade. O primeiro dos passos será dado no dia 4 de maio (aleluia!), depois de longas semanas de isolamento social sem refresco. Um senhor alento, especialmente se comparado ao clima no Brasil, que acumula montanhas de mortos e segue sua guerra particular entre presidente e governadores.
Tenho lido muitas análises e colunas afirmando que o mundo nunca mais será o mesmo, que o passado ficará eternamente preso em nossas lembranças, abrindo passagem para uma nova realidade. A contemporaneidade será pintada com máscaras, precauções e uma mentalidade muito mais higienizada. Pensar que muitos faziam troça de alguns países da Ásia antes da hecatombe epidemiológica que nos acometeu.
Nas ruas de Lisboa, o movimento vai sendo retomado aos poucos. O pequeno comércio já funciona através de tenras frestas, os corredores já percorrem distâncias um pouco maiores, as reuniões entre amigos são feitas com mais frequência. Temo pela economia e pelos imigrantes, que já sofrem com a falta de dinheiro e amparo longe de suas casas. Se desse para acelerar, apertar um “fast-forward”, o faria, sem sobra de dúvidas; esperar por dias melhores é angustiante e desesperador, especialmente quando a única solução é ficar em casa.
A nova realidade é ainda uma incógnita, mas o presente não vai deixar saudades. No futuro, o gosto agridoce da quarentena lembrará a todos o quão difícil foi viver em isolamento. Com cuidados ou não, seremos a geração dos beijos, abraços e carinho. O calor humano como política pública e direito inalienável de todo cidadão.
Texto de Gabriel Cassar - Jornalista e escritor, residente em Portugal e nosso colunista quinzenal =)
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